Epistemologias às margens e saberes silenciados: o quilombismo como movimento emancipatório na luta por direitos humanos
Abstract
As principais problemáticas sociais e políticas na sociedade brasileira são consequências da
barbárie dos “civilizados”. O homem Europeu tornou-se o maior genocida e epistemicida da
história da humanidade, quando impôs uma zona de não-ser aos ‘outros’ povos, postergou
uma herança de desigualdades aos seus descendentes, para perpetuar a ilusão do progresso e
superioridade branca. A chaga que transcende a escravidão é a base estrutural do projeto
europeu para a manutenção do colonialismo moderno. Parafraseando Marimba Ani não há
nada mais legítimo em uma civilização cujo o nascimento foi marcado pela escassez de
recursos naturais e a sua única forma de sobrevivência foi construída a partir do roubo e
destruição do Outro. A desumanização para a constituição do poder é a essência da Europa,
por isso, o racismo resultante da apatia ocidental, não é um simples desvio ético e não pode
ser combatido com noções europeias e tampouco com a reeducação dos algozes. A presente
dissertação segue um caminho que busca recuperar as epistemologias que foram
deslegitimadas no erguer da sociedade brasileira e na afirmação histórica dos direitos
humanos, revisitando os saberes ancestrais quilombolas com o intuito de possibilitar e inspirar
a criação de estratégias que dialoguem com a emancipação política das pessoas negras em
primeiro lugar - “ raça primeiro”. Desse modo, o objetivo desta pesquisa foi de verificar
dados, coletar vivências e analisar estudos de intelectuais negros que dialogam com a
construção de um ideal emancipatório para as pessoas negras. Como resultado esta dissertação
propos um olhar para as epistemologias afro diaspóricas que buscam reconectar as pessoas
negras com sua própria existência através de uma agenda africana, impulsionando o
reconhecimento do quilombismo como mecanismo para alcançar o pluralismo étnico jurídico
dos direitos humanos, para, em consequência, expandir os caminhos até a emancipação do
povo negro. A abordagem metodológica empregada neste estudo foi de natureza qualitativa,
aplicada e exploratória. O procedimento metodológico da escrevivência, cunhado por
Conceição Evaristo, que se sobressai no segundo e terceiro capítulo, também foi utilizado
para propor um efeito fundamentalmente anti-eurocentrismo-intelectual que determina nos
moldes de uma falsa razão, o que é ou não legítimo.