No compasso, ligeiro, da pianista Helena Lorenzo Fernandez: entre práticas pedagógicas, concertos e diplomacia musical brasileira (1931-1985)
Abstract
Gestada no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Tiradentes e
vinculada à linha de pesquisa Educação e Formação Docente, esta investigação tem como
objetivo analisar a trajetória da educadora, pianista-concertista Helena Lorenzo Fernandez,
destacando o seu papel e as suas contribuições para o campo da História da Educação. Helena
nasceu em Aracaju no dia 25 de janeiro de 1914. O seu itinerário profissional encampa práticas
docentes - aulas, concertos, criações de instituições educativas, gestão escolar e diplomacia
musical brasileira -, nos âmbitos local, nacional e internacional. O marco temporal deste
trabalho inicia-se em 1931, período marcado pela formatura de Helena, e termina em 1985,
momento no qual a educadora se aposentou. De caráter bibliográfica, documental e histórica, a
presente investigação se constituiu no domínio das discussões do Grupo de Pesquisa em
História da Educação do Nordeste (GPHEN/Unit/CNPq); filia-se, assim, à História Cultural,
conforme discussões levantadas por Burke (2005), Chartier (1990), e à História da Mulher, a
partir das proposições admitidas por Perrot (2016). Foram adotadas as noções de
“representação”, “apropriação” e “práticas” defendidas de Chartier (2017) e de “diplomacia
musical brasileira”, sustentada por Fléchet (2011); os conceitos de “intelectual” proposto por
Sirinelli (2003), de “mediador cultural” e “intelectual mediador” elucidados por Gomes e
Hansen (2016), de “diplomacia cultural brasileira” atribuídos por Fléchet (2011), de
“memória”, conforme estudos empreendidos por Halbwachs (2006), Michael Pollak (1992) e
Pierre Nora (1993). As categorias de análises que nortearam esta pesquisa são “rede de
sociabilidade” (Sirinelli, 2003), “cultura escolar” (Julia, 2011), (Benito Escolano, 2017) e
“instituições educativas” (Magalhães, 2004). Do ponto de vista metodológico, este estudo
insere-se nas Abordagens Biográficas e admitiu as técnicas do Método Biográfico. Por meio
dos estudos levantados por Duby (1988), Levillain (2003), Borges (2006), Avelar (2010),
Bourdieu (2006), Magalhães e Barreto (2016), foi possível, através de Helena, o indivíduo,
adentrar no coletivo social das instituições educativas, da infância, da música, em Sergipe, no
Rio de Janeiro e no exterior, das práticas pedagógicas, dos métodos de ensino, dos concertos
locais, nacionais e internacionais (diplomacia musical brasileira). A análise das imagens e
fotografias dispostas, neste estudo, são consideradas evidências históricas e testemunhas
mudas. Visando à compreensão do texto, inerente às fontes iconográficas, buscou-se apoio nas
produções escritas por Burke (2004), Barthes (1984), Kossoy (2001) e Bencosta (2011). No que
toca à tese defendida nesta pesquisa, advoga-se que as representações sociais instituídas pelo
Governo brasileiro, durante o período de 1910 a 1945, transformaram Helena em uma docente
nacionalista, disciplinada, protocolar, dedicada à causa da educação, da música, do Estado, e
que a sua formação acadêmica, o perfil profissional, o potencial de liderança, de empreender
eventos educacionais e culturais, o protagonismo e a intensa atuação, em defesa da música e da
educação musical escolar, contribuíram para o sucesso do percurso pessoal e profissional tanto
em Aracaju, quanto no Rio de Janeiro e no exterior. Enfim, esta investigação encontrou
silêncios e apagamentos acerca do papel e das contribuições que Helena deixou à História da
Educação e, a partir da análise do corpus documental levantado, conclui-se que a trajetória
dessa educadora apresenta contribuições relevantes à escrita da História e à escrita da História
da Mulher no Ocidente. Portanto, por tudo que foi, por tudo que idealizou, por toda a sua
dedicação, capacidade, altruísmo e força interior, esta tese outorga um lugar para Helena no
campo da História da Educação e, também, no da Educação Musical Escolar, no da Música, no
da Diplomacia Cultural Brasileira, no da História e no da História das Mulheres no Ocidente.