Memória/identidade Xokó: práticas educativas e reinvenção das tradições
Abstract
A presente tese tem como objeto a memória/identidade nas práticas educativas do
povo indígena Xokó, tendo como ponto de partida a questão: Como o povo Xokó se
utiliza de práticas educativas para reinventar suas tradições e preservar sua
memória/identidade? O objetivo geral foi compreender, sob a perspectiva da
pedagogia decolonial, como o povo Xokó têm utilizado as práticas educativas para
reinventar suas tradições e preservar sua memória/identidade. Para tanto, foi
analisada a formação da memória/identidade no contexto de luta pela terra;
identificada a elaboração e reelaboração das práticas educativas; como também,
analisada a relação entre as práticas educativas e a memória/identidade Xokó. Assim
como no artesanato Xokó o barro é a matéria-prima para a produção das peças de
cerâmica, neste trabalho a memória é a matéria-prima para modelagem e
remodelagem da identidade deste povo, que se consolida e se reelabora a partir de
suas práticas educativas. Parto da tese de que o povo Xokó construiu uma ponte entre
o passado e o presente, por meio de práticas educativas – rituais, celebrações e
educação escolar, que funcionam como agentes de transmissão de valores e normas,
por meio da repetição. A trajetória de expulsão/diáspora/reconquista de suas terras,
plasmou nos Xokó uma identidade intercultural, que se faz presente em suas práticas
educativas. Estas podem ser compreendidas, pelas lentes da pedagogia decolonial,
como táticas, práticas e metodologias de luta, rebeldia, organização e ação, que têm
por objetivo resistir ao imperialismo ideológico sobre eles exercido, a partir do
pensamento colonial que persiste até a atualidade. A pesquisa, desenvolvida por meio
de entrevistas de História Oral e recolha documental, evidenciou que entre os Xokó a
transmissão de valores e normas é uma ação que se faz presente no cotidiano através
de práticas rituais e simbólicas, posto que ensinam e preservam a cultura do grupo,
consolidando valores e normas de comportamento. Há três elementos que são seus
pilares culturais: a dança do Toré, o Ritual do Ouricuri e a Festa da Retomada,
configurando-se em duas formas de práticas educativas: as do cotidiano e as
escolares. Quanto às práticas escolares, existem algumas dificuldades no âmbito da
Secretaria Estadual de Educação para a assessoria à escola indígena, especialmente
para a contratação de professores da própria etnia. Contudo, os registros de ações
desenvolvidas demonstram o esforço para, mesmo com poucos recursos, fazer
cumprir a legislação. Quanto ao currículo desenvolvido na escola, a interculturalidade
praticada é funcional, pois se limita à introdução de conteúdos relativos a diferentes
culturas, e à própria história dos Xokó, sem que isso afete o currículo como um todo.
No entanto, quanto às práticas pedagógicas, é vivenciada uma interculturalidade
crítica que vai além do currículo explícito, posto que também se efetiva por meio do
currículo oculto, nas atividades, ensinamentos e relações estabelecidas no cotidiano.
Por fim, ao traçar uma reflexão acerca da lei 11.645/03, destaco a necessidade da
aprendizagem continuada dos professores, partindo da decolonização do saber e do
pensar.