ESTUDO HISTOMORFOLÓGICO DO EFEITO DE MEMBRANAS DE COLÁGENO CONTENDO PRÓPOLIS VERMELHA SOBRE O PROCESSO DE REPARO CICATRICIAL POR SEGUNDA INTENÇÃO EM RATOS
Abstract
A própolis é uma substância resinosa balsâmica de consistência viscosa e cor variada,
produzida por abelhas (Apis mellifera L.), cujas propriedades terapêuticas dependem
da origem botânica, localização geográfica e procedência. Extratos hidroalcoólicos da
própolis têm sido utilizados em diferentes situações como agentes antimicrobianos,
antiinflamatórios e cicatrizantes em ferimentos orais e da pele. Apesar das
propriedades da própolis verde convencional estarem sendo amplamente discutidas
na literatura contemporânea, estudos sobre a variedade regional característica do
estado de Sergipe, a própolis vermelha, são ainda extremamente escassos. O
colágeno tipo I bovino reconstituído tem sido amplamente utilizado como biomaterial,
no âmbito da saúde, em uma vasta gama de condições clínicas, e pode ser
dispensado em diversas formas, como filmes (membranas) e esponjas. Assim, o
objetivo deste trabalho consistiu em realizar um estudo histomorfológico do efeito de
membranas de colágeno contendo extratos de própolis vermelha sobre o processo de
reparo cicatricial por segunda intenção, em modelo murino. Para tanto, extratos
hidroalcóolicos de própolis vermelha foram incorporados a filmes bioativos, preparados
a partir de colágeno I extraído de tendão bovino, e aplicados sobre feridas cirúrgicas
padronizadas previamente confeccionadas em dorso de ratos. Os animais foram
distribuídos em seis grupos (n=5): G1 e G4– animais sem tratamento sacrificados em
7 e 14 dias; G2 e G5– animais tratados com membrana de colágeno sacrificados em 7
e 14 dias; G3 e G6– animais tratados com membrana de colágeno contendo própolis
vermelha sacrificados em 7 e 14 dias. Os espécimes removidos foram fixados,
processados e emblocados em parafina e secções histológicas foram coradas em HE,
azul de toluidina e Picrossírius. As variáveis analisadas foram: o padrão inflamatório, o
índice de reepitelização, o comportamento da microvasculatura, população de
mastócitos e padrão de colagenização. Observou-se uma provável propriedade
imunomodulatória da própolis vermelha sobre a reação inflamatória, traduzida em
maior infiltração plasmocitária nos grupos G3 e G6, sugerindo amadurecimento
precoce da resposta inflamatória. Os grupos experimentais mostraram tendência maior
a uma melhor reepitelização, especialmente na primeira etapa do experimento,
sobretudo no grupo tratado com própolis. Além disso, os vasos sangüíneos se
mostraram menos abundantes na primeira fase do experimento e mais dilatados na segunda fase no grupo controle, mas não houve diferença entre os grupos
experimentais. Observaram-se ainda evidências de maior desgranulação mastocitária
na primeira fase do experimento no grupo controle, mas não entre os grupos
experimentais. Com relação à fibroplasia, na primeira fase do experimento, o grupo
controle exibiu deposição de colágeno tipo III em detrimento da deposição de colágeno
do tipo I (embora com aparência imatura) nos grupos experimentais. Na segunda fase,
por sua vez, todos os grupos exibiram densa deposição de colágeno I, embora o
padrão de deposição fosse menos intenso no grupo controle. Ressalta-se que, na fase
inicial, a colagenização pareceu mais intensa e na fase final o colágeno depositado
pareceu mais maduro e com disposição mais entrelaçada – assemelhando-se mais
com a pele normal – nos grupos tratados com própolis. Conclui-se, pois, que a
associação entre as membranas de colágeno e a própolis vermelha promoveu os
melhores resultados no processo de cicatrização de segunda intenção em ratos.