O livro paradidático atravez do Brazil (1910): a geografia sob as lentes de Bomfim e Bilac
Abstract
Este estudo está vinculado à área de concentração em Educação, na Linha de
Pesquisa em Educação e Formação Docente do Programa de Pós-Graduação em
Educação (PPED/UNIT) e ao Grupo de Pesquisa História das Práticas Educacionais
(GPHPE/PPED/UNIT/CNPq). Os livros paradidáticos de Geografia têm seu registro
marcado editorialmente no Brasil a partir da década de 70 do século XX. Todavia,
esse recurso didático já fazia parte do contexto escolar brasileiro. Nesse sentido, esta
pesquisa tem como objetivo analisar como as temáticas geográficas e os elementos
iconográficos dispostos no livro Atravez do Brazil (1910), de Olavo Bilac e Manoel
Bomfim, o tornaram precursor da literatura paradidática de Geografia. A tese
defendida é que os livros de Geografia denominados de paradidáticos, em 1970, já
faziam parte do contexto escolar brasileiro, tendo como precursor a referida obra.
Nesse sentido, utilizamos como referencial teórico-metodológico os conceitos de
“livro” (Chartier, 1994); “livro paradidático” (Ramos, 1987); e de “paisagem” (Santos,
1991). Como resultado dessa pesquisa, podemos inferir que a Geografia no Brasil
buscou, para a composição de seu escopo conceitual escolar, não somente o
conhecimento geográfico da ciência de referência delineada em impressos advindos
de outros países, mas, também, lançou mão de constituir-se por outras fontes, como
na elaboração do livro Atravez do Brazil, narrativa que tem no seu cerne a geografia
brasileira, a partir da qual Bomfim e Bilac inserem e exploram conteúdos refrentes ao
país, o que possibilitou aos alunos/leitores perceberem a Geografia segundo suas
subjetividades, uma possibilidade de identificação e autorreconhecimento, a partir da
dimensão espacial geográfica nacional. Todavia, essa subjetividade foi alicerçada
pelo olhar dos autores, que delimitaram conteúdos, ilustrações e realizaram o
deslocamento dos personagens pelo Brasil. Escolhas que refletem a política república
a qual os autores estavam ligados. Contudo, em uma época em que a Geografia
escolar pautava-se mais pela descrição e enumeração de fenômenos espaciais,
marca de uma Geografia mnemônica e cheia de estrangeirismo, é notório o esforço
de Bomfim e Bilac na produção de um livro voltado para uma Geografia nacional, com
elementos que os diferenciaram dos demais produzidos no país. Essa narrativa
literária apresentou o conhecimento geográfico de maneira concreta, conduzindo o
leitor a viajar pelo Brasil e (re)conhecer o país, por meio de conteúdos e temáticas
geográficas, forjado a partir das suas paisagens, realçadas a partir da iconografia
brasileira. Repletos de cartão-postais, fotografias e desenhos, mostrando um registro
do Brasil, mesmo que este não retratasse de maneira fiel o que ocorria em todo o país,
fato que não tira a inovação de produzir um material com um quantitativo e diversidade
de ilustrações, utilizando uma linguagem de fácil compreensão para seu público leitor
escolar e buscando mostrar situações vivenciadas pelos personagens que
permitissem aos alunos a compreender sua concretude. Nessa conjuntura,
compreendemos que Bomfim e Bilac (1910) incorporaram ao livro de leitura elementos
que o caracteriza como uma nova fórmula geográfica brasileira que, mais tarde, na
década de 70, foi nominada de livros paradidáticos.