No garbo de estudantes, na disciplina dos militares: ritos e práticas educativas nas comemorações cívicas escolares no estado de Sergipe (1964-1985)
Abstract
A presente pesquisa foi desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-Graduação em
Educação da Universidade Tiradentes (PPED/UNIT), na linha de pesquisa Educação
e Formação Docente e se constituiu no domínio das discussões do Grupo de Pesquisa
em História da Educação do Nordeste (GPHEN/Unit/CNPq). As festas cívicas
escolares como espaço de representação de saberes e práticas educativas compõem
o objeto desta investigação, que tem por objetivo central analisar as festas cívicas
escolares em Sergipe durante os anos de 1964 a 1985. Nesse sentido, também
pretendemos compreender o papel da pedagogia das festas para os estudantes, bem
como demonstrar a função curricular e política que as celebrações cívicas para os
escolares apresentavam durante os governos de ditadura civil-militar. Assim, partimos
da tese de que as comemorações cívicas escolares em Sergipe, nos anos entre 1964
e 1985, para além de momentos de divertimento, configuravam-se em oportunidades
de formação da disciplina dos estudantes e da comunidade em sua volta. Eram
ocasiões propícias para serem forjadas atitudes e mentalidades que se encontravam
em consonância com o contexto sociopolítico da época, que também se refletiam no
próprio currículo escolar, a exemplo dos conteúdos ministrados na disciplina
Educação Moral e Cívica. Para tal, realizamos uma pesquisa histórica por meio de
análise documental, ancorada nos pressupostos teórico-metodológicos da Nova
História, mais precisamente da História Cultural. Além disso, o estudo foi direcionado
pelas concepções de Cultura Escolar, de Antonio Escolano e Dominique Julia;
Representação, de Roger Chartier; Tradição Inventada, de Eric Hobsbawm; e Festa,
de Mona Ozouf. Por meio da pesquisa, pudemos constatar que as comemorações
cívicas escolares em Sergipe se operacionalizaram enquanto rituais de celebrações e
formação educacional atreladas aos conteúdos curriculares, forjando e apresentando
à sociedade a forma de “educar”, a partir da disciplina e do civismo. Desse modo, foi
possível perceber a natureza das celebrações, destacando-se o culto à pátria, diante
dos desfiles em comemoração ao aniversário da independência do Brasil, como
também as atividades curriculares e extracurriculares vinculadas ao ensino da música,
aos Jogos da Primavera e as atividades da disciplina Educação Moral e Cívica. Nesse
processo, a festa representa o espaço de inculcação dos ritos cívicos, a exemplo do
culto ao Hino e à Bandeira, e da prática de esportes. Por conseguinte, as leituras e as
atividades desenvolvidas na escola oportunizaram a constituição de base teórica para
o alicerce de conceitos morais e cívicos representados nas atividades públicas.