As irmãs militão e a escola Santa Terezinha em Senhor do Bonfim, Bahia: saberes e práticas de duas professoras negras em uma casa-escola
Abstract
A presente tese, desenvolvida no Programa de pós-graduação em Educação, dentro
do Grupo de Pesquisa História da Educação no Nordeste (GPHEN/UNIT/CNPq) trata
das trajetórias de duas professoras negras e leigas, Maria de Lourdes Militão e Maria
Floripes Militão - as Irmãs Militão - que mantiveram uma casa-escola na cidade de
Senhor do Bonfim, Bahia, na segunda metade do século XX, entre as décadas 1950-
1980. A relevância do tema se justifica ao considerarmos a história do povo negro
brasileiro quanto ao difícil, estratégico e tardio acesso à educação formal e
consequentemente à formação como profissional, sobretudo para as mulheres. O
objetivo geral é analisar as concepções de educação de acordo com as práticas
pedagógicas utilizadas pelas professoras, assim como os processos de formação e
saberes presentes nas histórias de vida destas. Para compreendermos a relevância
da temática, precisamos considerar a interseccionalidade entre gênero, raça e classe
social que marcaram a vida das professoras pesquisadas. Este estudo fundamenta se na base epistemológica da pesquisa qualitativa e se sustenta na abordagem
biográfica, a partir de memórias dos sujeitos enquanto instrumentos de produção de
fontes, evidenciando elementos da subjetividade do sujeito, suas trajetórias pessoal
e profissional e experiências de vida. Os colaboradores/entrevistados da pesquisa
foram nove sujeitos que estabeleceram relação de alunos, vizinhos, conhecidos e
amigos com as professoras pesquisadas, Maria de Lourdes Militão e Maria Floripes
Militão. Caminhamos pelos campos da História Oral e da História Pública Digital,
utilizamos recursos audiovisuais na produção das fontes primárias, as quais foram
cotejadas com as fontes documentais encontradas, para compor as trajetórias de vida
das Irmãs Militão e as concepções de educação que ancoravam as práticas das
professoras na casa-escola. As fontes orais e públicas digitais foram usadas de
acordo com um embasamento teórico-metodológico que defende e permite compor
histórias de pessoas comuns, dando-lhes a devida e necessária visibilidade de acordo
com suas participações na vida em sociedade. Assim, compomos as trajetórias das
professoras, evidenciando suas estratégias de sobrevivência como mulheres negras
e professoras leigas, e apontando o quanto elas se valeram de seus saberes,
experiências e criatividade para se posicionarem socialmente, serem respeitadas e
contribuírem com a manutenção de crenças, ideias, hábitos e tradições, utilizando a
educação como uma forma de resistência ao racismo, preconceitos e discriminações,
e conquistando um espaço social como sujeitos históricos.