Os indícios do cuidado com o corpo nos inventários judiciais sergipanos (1821-1838)
Abstract
Os discursos e práticas sobre higiene, no século XIX, envolviam desde problemas
de moralização do homem dentro da sua individualidade e coletividade, cuidados
com o corpo e mente, questões ambientais e arquitetônicas, à construção de um
novo sistema educacional. Assim, todas estas questões estavam inseridas no
âmbito da “hygiena”, visto como meio de conservar a saúde e precaver doenças no
referido século. Neste sentido, esta dissertação tem por objetivo compreender como
e quando se deu a noção de cuidado do corpo nas famílias sergipanas no início do
século XIX. O marco temporal desta pesquisa é de 1821 a 1838, o primeiro marco,
1821, diz respeito ao aparecimento, nos inventários judiciais, de objetos que
denotam o cuidado do corpo, e 1838 sobre quando começou a haver uma
diversificação desses objetos nos inventários judiciais. Os conceitos que embasaram
esta discussão foram: civilização, de Elias (1994), e família, de Santos (2011). As
fontes que deram corpo a este labor foram os inventários judiciais, pois esses
documentos, quando analisados, possibilitam levantar dados e colher inúmeras
informações a respeito de uma época ou tempo. Além dos inventários, foram
utilizados, também, os Catálogos da Comarca de Aracaju e fontes bibliográficas de
autores que desenvolveram pesquisas sobre História do Brasil e Sergipe. Essas
fontes foram analisadas à luz do método indiciário de Carlo Ginzburg, que consiste
em examinar os pormenores mais negligenciáveis, os indícios mais imperceptíveis,
as pistas mais obscuras, postas nos documentos irrelevantes para a maioria dos
pesquisadores. No âmbito da História da Educação, o presente trabalho evidencia
as práticas cotidianas, o surgimento de novos aprendizados – a noção de cuidado
com o corpo – fora do contexto escolar.