A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO ENSINO DE FRANCÊS NO BRASIL: O CASO DA ACADEMIA REAL MILITAR DO RIO DE JANEIRO (1810 - 1832)
Abstract
Este trabalho objetiva investigar o processo de institucionalização do ensino de francês no Brasil buscando delinear suas representações e finalidades políticas, pedagógicas e culturais no início do século XIX. A Academia Real Militar do Rio de Janeiro, criada em 1810 com o objetivo de formar um núcleo de estadistas na América portuguesa, é o lócus da pesquisa onde o ensino de francês era percebido como veículo de transmissão dos conhecimentos tidos como modernos, passando por reformas estruturais no ano de 1832, que o excluem do currículo como matéria de ensino. A institucionalização do ensino de francês, como um processo, representou uma transformação da natureza de seu ensino, formalizando e universalizalizando suas regras de funcionamento. Para esta pesquisa, foram usados como fontes a historiografia e a legislação sobre a matéria, bem como os primeiros compêndios de francês lançados entre 1647 e 1836. Do ponto de vista legislativo, as normas para o ensino de francês tinham por objetivo definir os conteúdos a serem ensinados, sendo elaboradas com a finalidade de legitimar os saberes a serem transmitidos, bem como autorizar as práticas que possibilitassem a sua transmissão. Contudo, as finalidades do ensino de francês não estavam forçosamente inscritas nos textos oficiais, sendo o compêndio de francês percebido como agente de uma prática escolar e por meio do qual observamos as suas representações e finalidades pedagógicas e culturais propostas para instrução oferecida. Serviram como pressupostos teóricos algumas obras de autores como Dominique Julià (2001), para pensarmos o conceito de cultura escolar; reflexões de Chartier (1999) e Chervel e Compère (1999), que tratam do conceito de disciplina escolar, assim como as pesquisas de Darnton (2005) e Geary (2008) que tocam em questões relativas à identidade nacional e à educação sob a ótica iluminista de progresso e perfectibilidade humana.