“PELO SANGUE” E “PELA LÍNGUA”: AÇÃO ETHINICA NO DISCURSO MESTIÇO NA HISTÓRIA DA LITERATURA BRASILEIRA DE SYLVIO ROMÉRO (1881-1888)
Abstract
A presente pesquisa tem como objeto de estudo os discursos raciais na obra
História da Literatura Brasileira de Sylvio Roméro (1888). Este estudo tem como
objetivo geral compreender como o autor organizou e sistematizou o discurso racial
na obra acima citada. Por tal propósito, fez-se necessário descrever e analisar os
aspectos textuais e materiais da obra enquanto objeto de discurso racial, além de
identificar e interpretar como o autor se apropriou de teorias científicas para expor as
manifestações raciais. Para tanto, procurou-se dialogar com o conceito de repertório,
buscando entender a mobilização de teorias importadas da Europa como uma forma
utilizada pelo autor para trazer em seus discursos pensamentos raciais em voga no
Brasil oitocentista. Logo, se questiona: como Sylvio Roméro faz uso da literatura
como espaço de manifestações raciais? Que expressões presentes na História da
Literatura Brasileira (1888) caracterizam tais manifestações e como estas estão
expostas na obra? Diante de tais questionamentos, delimitou-se o marco temporal
entre 1881 e 1888. Tal escolha partiu do fato de a introdução da obra ter sido
publicada inicialmente em 1881 na Revista Brasileira, da Academia Brasileira de
Letras, e o ano de 1888 por ser o ano de publicação da primeira edição do livro, que
foi material de consulta dos professores do Colégio Pedro II. Como procedimento
metodológico, foi utilizada a operação histórica de análise de fontes, tendo como
ponto de partida o conceito de documento/monumento concebido por Jacques Le
Goff. Assim, enfatizou-se a necessidade de pensar as condições de produção e
apropriação das fontes históricas. Enfim, entendeu-se o livro com uma função social
dentro do contexto da sociedade vigente, um dispositivo transmissor de
conhecimento que forma e informa, tendo uma função educativa através das teorias
raciais, principalmente com o darwinismo. A circulação e a apropriação possibilitou a
disseminação dos discursos raciais naturalizados a partir da linguagem. Dessa
forma, o livro de Sylvio Roméro revela uma produção intelectual de modelo
darwinista, além de evidenciar na teoria como este deveria ser aplicado na
sociedade, que para o autor, no futuro, teria uma nova geração com traços mais
finos, ou seja, embranquecida. Portanto, a obra possibilitou a divulgação dessas
teorias e deu sentido à ideia de embranquecimento racial. Concluiu-se que o
impresso foi visto nesta dissertação como uma tecnologia divulgadora de ideias.