Dicionário básico de filosofia
Abstract
Todo dicionário é criticável. Em especial quando se trata de filosofia. Afinal, em verbetes
necessariamente concisos, procura-se congregar os mais relevantes sistemas de pensamento; reunir os
principais conceitos que dividiram o espaço intelectual no curso da história dos homens e das coisas;
recensear as palavras que dizem as coisas e os homens. Cada filósofo utiliza um jargão específico,
terminologias variam de um autor a outro. Por isso, preocupados com centros de interesse
estritamente conceituais, esboçamos aqui um conjunto que não se ajusta voluntariamente a nenhum
sistema filosófico. Não fizemos uma escolha eclética ou dogmática, mas quisemos manter uma tensão
vigilante entre os diferentes conceitos e seus respectivos polos de pensamento.
Ao contrário da ciência física, que impõe respeito, a filosofia frequentemente levanta suspeita.
Notadamente porque seu logos é fragmentado. Platão já nos advertia: “O meio mais radical de abolir
toda espécie de discurso consiste em isolar cada coisa de todas as outras, porque é a combinação
recíproca das formas que dá origem, em nós, ao nascimento do discurso” (Sofista, 259). Quem poderá
unificar o logos filosófico? Um dicionário? Certamente que não. Cada especialista já sonhou em fazer
o seu. Sentiu-se chamado a suplantar os outros pela exaustividade, pela profundeza e pela exatidão.
Um dicionário real aparece sempre como um desmentido a um dicionário imaginário.