“Quem tem alma não tem calma!” TDAH pelas narrativas de mães em grupos do Facebook
Abstract
Esta dissertação tem como tema as narrativas das mães de Transtorno de Déficit de
Atenção e Hiperatividade (TDAH) nos espaços públicos das mídias sociais digitais,
em específico, os grupos do Facebook. A partir de uma escuta sensível e a articulação
com as experiências vividas, memórias como meios de produção de conhecimento, o
objetivo deste trabalho consiste em perceber as potencialidades, sensibilidades e,
também, os rastros de colonialidades que atravessam o ser-saber-fazer das mães,
bem como os ambientes que elas construíram e constituem. À luz do pensamento
decolonial e das sensibilidades do filósofo Walter Benjamin, ferramentas teórico metodológicas elencadas, identificamos e problematizamos os resquícios do
pensamento colonial, que ainda (in)visibilizam saberes, estéticas, culturas, corpos,
modos de ser e viver, que classifica, diferencia, que elege a ciência médica como
único conhecimento verdadeiro e válido e subalterniza os sujeitos, saberes e fazeres
outros. Através da tecitura de diálogo entre a área da comunicação e com as teorias
decoloniais, pensamento de Walter Benjamin e Paulo Freire, tensionamos a cultura mundo tecnicista, imediatista, produtiva, hiper visível, que permeia nossa sociedade.
Esses tensionamentos nos encaminha a fazer reflexão sobre os espaços outros a qual
as pessoas também têm convivido e desenvolvido relações – os grupos do Facebook.
Assim, procuramos pensar criticamente essas esferas, de forma a perceber não
somente as marcas negativas, mas também as possibilidades que essas esquinas
digitais possibilitam. Dito isto, defendo os pressupostos de que os grupos do
Facebook, criados pelas mães de TDAH, são terrenos férteis, insurgentes e potentes
para problematizações, interações educativas, para acervo de suas memórias e
fortalecimento identitário. E as mães, narradoras com quem dialogamos, são sujeitas
de suas próprias histórias, fazem deste, local de produção (de conhecimento, de
memória, de afetividade), espaço para ação política e (re)existências. Com o
pensamento nas memórias, experiências e saberes outros, os procedimentos
metodológicos adotados fundamentam-se em uma abordagem qualitativa. A escrita
das narrativas das mães é apresentada na forma de mônadas, neste sentido, serão
acompanhadas e “ouvidas” as narrativas de dois grupos do Facebook, “Mães de filhos
com TDAH” e “Mãe de Pessoa com TDAH. O estudo permite refletir criticamente sobre
produções de conhecimentos que estão à sombra, à espera de oportunidade para
emergir, na decolonização do ser, saber, poder, dos espaços virtuais, narrativas e
memórias, que também educam, ensinam, produzem conhecimento, cultura. Produz
vida, que resiste.