Entre gritos e silêncios: ecos de uma pedagogia de (re)existência com meninas quilombolas
Abstract
A partir da escuta sensível das vozes de dois educadores e seis crianças, este
trabalho foi desenvolvido com o objetivo de compreender a constituição de uma
pedagogia de (re)existência no quilombo urbano Maloca, localizado na cidade de
Aracaju. Especificamente, os objetivos foram elaborados no sentido de identificar, na
atuação da Organização Não-Governamental Criliber (Criança - Liberdade), suas
práticas educativas de resistência e a ressignificação do conceito de raça; analisar
os conflitos identitários vividos pelas crianças como potência de criação da própria
existência e, também, pauta de atuação da Criliber; além de reconstruir, a partir das
narrativas, elementos constituintes da pedagogia de (re)existência. Para tanto,
entender como a referida pedagogia se constitui, a partir das experiências de
infância quilombola, implicou perceber que ela mesma emerge das próprias relações
cotidianas, dos modos de ser sujeito, de viver e de estar no mundo. Assim, afirmar a
própria existência num contexto que insiste em negá-la é, por excelência, criação de
vidas outras, possíveis. E é desta dimensão que este texto trata: das experiências
de infâncias quilombolas. Inspirada nos estudos decoloniais, em diálogo com a
educação, analisei a atuação da Criliber (Criança - Liberdade), priorizando as
práticas educativas de resistência, que são desenvolvidas por meio do Projeto Mãe
Madalena. Para entender a leitura que as crianças empreendem acerca da própria
participação nas atividades – oficinas de estética negra, rodas de conversa sobre
racismo, entre outras –, bem como dos conflitos identitários que enfrentam, o diálogo
foi a principal ferramenta metodológica. Além desta, a observação, o uso do diário
de campo e a realização de oficinas temáticas, atravessadas pela questão racial,
compuseram o corpus procedimental necessário ao fazer investigativo. A aposta
central se concentrou numa pedagogia de (re)existência que emerge nas
experiências de crianças negras e quilombolas como criação e transformação da
vida, em gestos orgânicos de resistência – uma prática pedagógica que é, ela
mesma, reinvenção da própria existência, nos entremeios da colonialidade. Em
suma, o exercício de pensar uma educação antirracista, imersa no cotidiano de uma
comunidade, no universo potente da infância quilombola, considerando a atual
conjuntura política e social brasileira, faz desta tese um grito! Aqui, vozes-meninas,
vozes-negras, quilombolas, ecoam sentidos de vida e resistência, de luta
antirracista.