Linhas entrelaçadas: história da educação ● arquitetura dos grupos escolares ● cidade de Aracaju (1914 -1925)
Abstract
Aracaju, instituída em 17 de março de 1885, nasce sob o signo de cidade-capital para
escoar, via porto, a rica produção do açúcar da Província de Sergipe d’El Rei,
transferindo o centro político e econômico para o estuário do Rio Sergipe. Esta
micronarrativa se inicia em 1914, com a inauguração do Grupo Escolar Central, que,
após três anos, homenageia o presidente que o inaugurou, recebendo a denominação
Grupo Escolar General Siqueira. Diante da necessidade de compreender as linhas
que demarcaram a cidade de Aracaju, retrocedemos aos atos que marcam esta
conquista. Esse fato será interceptado com dispositivos legais impostos para a
consolidação da cidade e dos grupos escolares - seis edifícios construídos no espaço
temporal que se encerra em 1925, com a inauguração do Grupo Escolar José Augusto
Ferraz. O pesquisador que aqui se apresenta pretendeu, com base em pressupostos
metodológicos de coleta de dados documental e eletrônica, sendo a pesquisa de
abordagem qualitativa e descritiva do lócus, apropriar-se dessas informações,
consciente de suas limitações, e imprimir olhar focado nos elementos físicos - a
arquitetura e a cidade - e inter-relacioná-los com os fragmentos escritos, os mapas,
as fotografias e os elementos sociais e culturais de forma a historicizá-los, construindo
assim intelecção da instituição educativa e sua institucionalização. O aporte teórico se
assenta em Antonio Viñao (2005); Bruno Zevi (1996); Henri Lefebvre (2001); Justino
Magalhães (2004); Michel de Certeau (1994); Peter Burke (1992 e 2017); Roger
Chartier (2002), para entrelaçar a cidade, o edifício-escola e a legislação que
moldaram o signo de civilização e progresso, com educação laica, obrigatória, gratuita
e mantida pelo Estado. Tem-se como hipótese a indicação de que, quanto ao espaço
urbano, a localização dos edifícios-escola e os discursos regulatórios das medidas
deliberativas do Estado interferiam significativamente na organização administrativa e
pedagógica da instrução pública na modalidade grupo escolar, sendo esta ação
identificada através dos traços e indícios que formaram uma relação renovada e
apropriada desta representação coletiva na cidade de Aracaju entre os anos de 1914
a 1925. A forma de ocupação do edifício no lote, sua configuração estética com o
ornamento como peça chave desta distinção, a função de instituir os novos espaços
onde os ritos foram consolidados, forjou a identidade deste novo modelo, com forte
influência francesa e americana. A localização dos edifícios escolares públicos na
malha urbana também são elementos importantes para o fortalecimento dos vetores
de crescimento norte, oeste e sul da cidade para além do Quadro de Pirro. Nossa
contribuição, inédita, se faz através do desenho, com a geração de novos registros
desse processo histórico, cultural e social. As mudanças ou não deflagradas pelas
leis, decretos e regulamento também contribuem para a percepção das intenções e
tensões provocadas pelos sujeitos na instrumentalização das instituições educativas.
O texto estruturado em cinco segmentos convida o leitor a acompanhar a trajetória
singular, em que se delineiam a cidade de Aracaju e seus condicionantes de território
e sociedade, sistematizam-se e se filtram dos dispositivos legais promulgados (local
e nacionalmente) e seus desdobramentos nas ações empreendidas nas instituições;
apresenta-se, através de fichas técnicas, cada edifício-escola: sua relação com a
tipologia e os elementos que compõem a arquitetura e o urbano; e se busca
demonstrar como essa modalidade escolar se configurou na cidade de Aracaju e
formou uma representação coletiva do espaço escolar.