Direito à saúde baseada em evidências: estudo de série temporal sobre a judicialização de medicamentos
Abstract
As decisões judiciais são fundamentadas ou baseadas em evidências? O desenho de estudo
dessa pesquisa está organizado para responder a essa pergunta. Objetivos: o objetivo geral é
analisar a judicialização para a concessão de medicamentos a partir do direito à saúde com
base em evidências. Por sua vez, os objetivos específicos são dois: analisar as decisões
proferidas pelo Judiciário, verificando se estão fundamentadas ou baseadas em evidências; e
analisar a importância da avaliação da qualidade da evidência das medicações demandadas.
Métodos: Em uma primeira etapa, partindo-se de decisões emitidas entre 2015 e 2017 no site
do Tribunal de Justiça do Estado de Alagoas (TJ/AL), 131 processos são avaliadas a fim de
extrair informações úteis para verificar como o Judiciário alagoano vem lidando com as
demandas de saúde e quais os principais fundamentos utilizados para conceder ou negar os
medicamentos. Num segundo momento, o medicamento insulina humalog foi selecionado
para ter a qualidade da sua evidência analisada partindo-se de buscas na Biblioteca Cocrhane
e na MEDLINE via PubMed. Resultados: Em 100% dos processos analisados houve
concessão dos medicamentos judicializados. A maioria (86,3%) foi concedido já na primeira
decisão proferida no processo, a decisão liminar. A fundamentação das decisões esteve
pautada no atestado médico, percebeu-se que o Judiciário apresentou grande confiança nesse
documento, e utilizou-se também fundamentos pautados na Constituição. Observou-se que
argumentos voltados a questões políticas e orçamentárias não são aceitos, e mostram-se quase
que unanimemente superados. Percebeu-se, também, pouca importância para as evidências
científicas e para as políticas públicas de saúde do SUS. Nos 131 processos (100%),
percebeu-se que as decisões não foram baseadas em evidências científicas, e ao analisar se as
decisões judiciais ao menos consideraram as políticas de saúde do SUS, constatou-se que em
93,1% dos processos isso não aconteceu. Conclusões: Os resultados apontam que as
evidências científicas não são utilizadas de forma ampla e sistemática pelo Judiciário
alagoano, restando evidente a importância de fomentar o debate acerca do tema, com a
finalidade de conscientizar e traçar estratégias para superar os desafios que permeiam a
judicialização da saúde.