NEURODEGENERAÇÃO E DÉFICITS COGNITIVOS APÓS LESÃO MEDULAR: EFEITOS DO TRATAMENTO COM EXTRATO AQUOSO DA CASCA DO FRUTO DE PUNICA GRANATUM
Abstract
A lesão medular (LM) decorrente da interrupção parcial ou total dos sinais neurológicos através da medula resulta em alterações locomotoras e/ou sensitivas. Danos à medula espinhal podem ocasionar comprometimento motor e déficits cognitivos e distúrbios emocionais, fruto de modificações fisiopatológicas consequentes do processo neuroinflamatório e destruição neuronal, repercutindo significativamente sobre a qualidade de vida dos pacientes afetados. Dentro desse contexto, a Punica granatum tem se destacado por apresentar uma série de atividades biológicas, como ação antinflamatória, antioxidante e neuroprotetora. Diante do exposto, o objetivo desta pesquisa foi avaliar o possível efeito neuroprotetor da administração oral do extrato aquoso da casca do fruto de Punica granatum (EACPG) sobre a progressão da LM em roedores. Para tanto os ácidos fenólicos foram quantificados no EACPG através do método de padronização externa, utilizando-se as curvas analíticas construídas para os padrões. Foi avaliada a atividade motora em teste de campo aberto e desempenho cognitivo em teste de labirinto em Y (memória de trabalho). Para tanto os animais foram divididos em 5 grupos: falso-operado (LAM), hemissecção tratados com água destilada (LESÃO), e os lesionados tratados com EACPG nas doses de 100 e 300 mg/kg e com Metilpredinisolona (METIL) 30 mg/kg. Os tratamentos foram realizados através de gavagem (via oral) diariamente durante 28 dias. Ao término do tratamento os testes comportamentais foram realizados e, em seguida, os animais foram eutanasiados em câmara de gás carbônico e os cérebros removidos para análise pós-mortem. Os espécimes foram devidamente processados e submetidos à análise histológica para avaliação das alterações morfológicas e densidade média de neurônios do hipocampo. Os dados foram avaliados por meio de análise de variância de uma via (ANOVA) seguida do pós-teste de Tukey, dados não paramétricos por meio de teste Kruskal-Wallis e pós-teste de Dunn. Na análise química do EACPG foi possível quantificar e identificar a presença do ácido gálico e do ácido elágico. No teste de labirinto em Y, o grupo lesionado tratado com EACPG 300 mg/kg mostrou aumento significativo da porcentagem média de alternações corretas em relação aos grupos LAM (p < 0,0001), LESÃO (p < 0,05) e EACPG100 (p < 0,001) ao final de 28 dias. Com relação à avaliação motora, observou-se que todos os grupos lesionados mostraram valores significativamente menores que o grupo LAM (p < 0,0001). A análise histopatológica dos animais evidenciou um número médio de neurônios/campo histológico no hipocampo significativamente menor no grupo LESÃO (2,93 ± 0,23) do que no grupo LAM (4,13 ± 0,27) (p<0,01) no lado homolateral à lesão. O tratamento com o EACPG com a dose de 300 mg/kg levou as contagens médias de neurônios a valores estatisticamente semelhantes ao grupo LAM (p>0,05), o que também foi visto no grupo tratado com metilprednisolona (METIL) (p>0,05). Concluiu-se que a lesão medular promoveu diminuição da atividade motora e a administração do extrato aquoso da casca da P. granatum foi capaz de melhorar a desempenho no teste de memória (labirinto em Y), além de promover ação neuroprotetora sobre a neurodegeneração de neurônios hipocampais após lesão medular espinhal.