FAUNA PARASITÁRIA DO TAMBAQUI Colossoma macropomum, (Cuvier, 1818) E FATORES DE RISCO ASSOCIADOS AO SEU CULTIVO NA REGIÃO DO BAIXO RIO SÃO FRANCISCO (SE/AL)
Abstract
Atualmente a aquicultura é uma alternativa ao acesso de proteína de qualidade e também fonte alternativa de renda para as famílias que vivem em zonas rurais. O aumento do número de pisciculturas no Brasil associado à intensificação da produção tem feito com que produtores se preocupem com a sobrevivência, a sanidade e a qualidade dos peixes. Dessa forma, levantamentos epidemiológicos que possibilitem a avaliação dos riscos e a elaboração de protocolos de biossegurança, priorizando não só o patógeno, mas sim a tríade hospedeiro-patógeno-ambiente, são fundamentais para garantir a sustentabilidade da cadeia. O objetivo deste estudo foi investigar a fauna parasitária, assim como a relação parasito hospedeiro em tambaquis (Colossoma macropomum) cultivados na região do Baixo rio São Francisco nos estados de Alagoas e Sergipe e os fatores de risco associados a esse parasitismo. Para tal, foram coletados 252 espécimes de tambaquis em fase de engorda para análise parasitológica, entre os períodos de Junho a Julho/2014 (estiagem) e Setembro/2014 a Março/2015 (chuva), em dez pisciculturas da região. Em cada piscicultura foram medidos os parâmetros de água e aplicado questionário para caracterização do manejo e infraestrutura. De cada peixe foram analisados muco, brânquias, fígado, rim, cecos pilóricos, intestino, estômago, bexiga natatória e músculo. Foram calculados os índices de prevalência e intensidade média de infecção e realizada correlação de Spearman entre índices parasitológicos e fatores bióticos (comprimento padrão e peso) e abióticos (pH, oxigênio dissolvido, condutividade, temperatura e transparência). Para avaliar o risco referente ao manejo e infraestrutura adotados na piscicultura sobre a fauna parasitária determinou-se o “Odds Ratio”. A partir dessas análises realizou-se a identificação e avaliação dos fatores de risco associados ao parasitismo. No total de 252 peixes coletados (CP 19,7 ± 7,3 cm e Peso 385,7 ± 364,6 g), 165 (65,5%) apresentaram-se parasitados por pelo menos um táxon, porém sem distinção da infestação entre os períodos de estiagem e chuva. Foram encontrados 10 táxons distintos: Monogenea, Ichthyophthirius multifiliis, Trichodina sp., Piscinoodinium pillulare, Ichthyobodo sp., Dolops carvalhoi, Lernaea cyprinacea, Procamallanus (Spirocamallanus) inopinatus, Henneguya sp. e Myxobolus sp. Os Monogenea e Myxobolus sp. apresentaram as maiores prevalências (49,2% e 31,5% respectivamente). Foram observadas correlações negativas significativas entre prevalência e fatores bióticos somente para Monogenea (r2=-0,49 e p=0,001; r2=-0,43 e p=0,005), Myxobolus sp. (r²=-0,46 e p=0,002; r²= -0,39 e p=0,01) e Henneguya sp. (r²=-0,41 e p=0,008; r²= -0,39 e p=0,01). Com relação ao manejo e infraestrutura das pisciculturas foram identificados dez fatores de risco, os quais se mostraram espécie-específicos. A presença desses fatores influenciou a prevalência principalmente de Myxobolus sp. e Monogenea, sendo que o maior risco está relacionado à não desinfecção dos viveiros entre um ciclo e outro de produção (OR=17,85 e p=0,0001; OR=69,66 e p=0,0001, respectivamente). Demais parasitas como Henneguya sp. e P. pillulare têm sua prevalência influenciada quando o fator de risco “presença de consórcio da criação de peixes com suínos” está presente (OD=5,34 e p=0,0041 e OR= 81,82 p=0,002, respectivamente). Porém, as prevalências de Lernaea cyprinacea e Trichodina sp. não foram influenciadas pelos fatores de risco relacionados ao manejo e infraestrutura, mas correlações entre os índices parasitológicos dessas espécies e os fatores abióticos de temperatura e condutividade foram observados. Assim, a partir dessas informações pode-se concluir que a fauna parasitária dos tambaquis cultivados na região Baixo rio São Francisco se apresenta diversificada, com fatores de risco relacionados aos parâmetros da água (condutividade e temperatura) e a manejos inapropriados nas pisciculturas.