AVALIAÇÃO DA TOXICIDADE AGUDA E SUBAGUDA DO EXTRATO HIDROALCOÓLICO DA PRÓPOLIS VERMELHA
Abstract
Estudos recentes relataram importantes atividades biológicas da própolis vermelha brasilei-ra. No entanto, não foi realizada uma avaliação detalhada dos possíveis efeitos adversos desse produto in vivo. O objetivo deste trabalho foi avaliar a toxicidade aguda e subaguda da administração oral do extrato hidroalcoólico da própolis vermelha (EHPV). A composição química do extrato foi analisada por cromatografia líquida de alta eficiência. O estudo foi realizado seguindo os protocolos da Organisation of Economic Co-operation and Develop-ment. Para avaliação da toxicidade aguda (OECD 420) foram utilizadas ratas Wistar adultas (n = 5/grupo) que receberam uma dose única de veículo (5% Tween 80 em água, grupo con-trole), ou 300 mg/kg do EHPV (grupo EHPV300). Estes animais foram observados durante 14 dias quanto aos sinais de toxicidade e/ou mortalidade e alteração de massa corporal. Para a avaliação da toxicidade subaguda (OECD 407), grupos de ratos machos e fêmeas (n = 5/grupo) receberam veículo ou EHPV nas doses diárias de 10, 100 e 200 mg/kg (grupos EHPV10; EHPV100 e EHPV200, respectivamente) durante 28 dias. Foram avaliados diaria-mente os sinais clínicos, mortalidade e ciclo estral em fêmeas. O consumo de água e ali-mento e alteração de massa corpórea foram avaliados semanalmente. Ao final do período, foram realizados exames bioquímicos e hematológicos. Após a eutanásia, os órgãos de inte-resse foram retirados para análise macroscópica e histopatológica. Na composição química do extrato foram identificadas as isoflavonas daidzeína, formononetina e biochanina A. Foi observado que o tratamento agudo com EHPV300 induziu sinais de toxicidade em 80% dos animais até o terceiro dia após a administração do extrato (respiração ofegante, sonolência, diminuição da ambulação e diarreia), mas não foram observadas alterações macroscópicas dos órgãos. O tratamento subagudo com o EHPV10 causou raros episódios de diarreia nos animais e aumento dos níveis de ureia em fêmeas. O exame hematológico mostrou diminui-ção da concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM) e aumento do número de eritrócitos e da concentração de hemoglobina em machos. O grupo EHPV100 apresentou sinais de toxicidade em fêmeas (diarreia) e machos (diarreia, diminuição da ambulação e respiração ofegante). As fêmeas apresentaram aumento do consumo de água e ração, da massa corpórea, do peso do baço e dos níveis de fosfatase alcalina, com diminuição do volume corpuscular médio das hemácias (VCM). Nos machos houve aumento da massa do pulmão, aumento da quantidade de eritrócitos e da concentração de hemoglobina, com di-minuição da CHCM. No grupo EHPV200 observaram-se episódios de diarreia, aumento da massa corpórea e aumento nas concentrações de sódio e do colesterol total em ambos os sexos. Nas fêmeas houve aumento da CHCM e diminuição do VCM. Nos machos observou-se aumento do consumo de água e ração, de monócitos e aumento dos níveis de proteínas totais, fosfatase alcalina, creatinina, albumina e alanina aminotransferase, com diminuição dos níveis de triglicerídeos e da quantidade de eosinófilos, além de diminuição da massa do testículo. Não foram observadas alterações macroscópicas e histopatológicas dos órgãos analisados. A regularidade do ciclo estral foi mantida no grupo controle, mas mostrou-se alterada em 40% das fêmeas do grupo EHPV10 e em 100% das fêmeas dos grupos EHPV100 e EHPV200. Os dados indicam uma possível ação tóxica da própolis vermelha, além de um efeito estrogênico associado à presença de isoflavonas.