UTILIZAÇÃO DE OTÓLITOS DE Cynoscion acoupa EM ENSAIOS BIOLÓGICOS DE BIOCOMPATIBILIDADE E REPARO ÓSSEO
Abstract
Otólitos são concrescências calcárias presentes no ouvido interno de peixes. Em
virtude de serem ricos em minerais considerados essenciais ao processo de
mineralização óssea, e de uma matriz protéica a otolina, tem sido sugerido que os
otólitos poderiam funcionar como biominerais. Portanto, este estudo objetivou
analisar a biocompatibilidade desse produto, bem como a dinâmica da regeneração
de defeitos ósseos tratados com preparado gelatinoso estéril de otólitos. Para o
ensaio de biocompatibilidade, tubos de polietileno contendo preparado gelatinoso
estéril de otólitos foram implantados no lado direito do dorso de 24 ratos Wistar , e do
lado esquerdo foram implantados tubos contendo apenas colágeno hidrolisado
(gelatina inerte). Os animais foram eutanasiados após 3, 7 e 30 dias, o tecido
perimplantar foi removido, fixado em formol e processado para inclusão em parafina.
Secções histológicas coradas em HE foram obtidas e analisadas em microscopia de
luz. Posteriormente, defeitos ósseos artificiais foram realizados no fêmur de 20 ratos
Wistar, divididos em 02 grupos: grupo controle (CTL), cujos defeitos ósseos não
receberam, qualquer tratamento adicional; e grupo experimental (OTL), onde os
defeitos foram preenchidos com o preparado de otólitos. Os animais foram
eutanasiados 14 dias após os procedimentos cirúrgicos; os fêmures foram removidos
e realizadas imagens radiográficas dos defeitos ósseos produzidos nos grupos CTR e
OTL. Utilizou-se software ImageTool (UTHSCSA ImageTool, versão 3.0) para as
avaliações radiográficas. Posteriormente foram fixados em formalina, descalcificados
em ácido nítrico a 0,5% e processados histologicamente. Antes das eutanásias, foram
coletadas amostras sanguíneas para avaliações das dosagens séricas de cálcio (Ca) e
fosfatase alcalina (ALKP), assim como dos parâmetros hematológicos convencionais
(hemograma). No estudo de biocompatibilidade, observou-se um padrão similar de
resposta inflamatória no tecido conjuntivo circudinjacente a ambos os implantes, de
magnitude variando entre moderada e severa em 3 dias e leve a ausente em 30 dias.
Não foram observadas formações granulamatosas ou infiltração aguda persistente ao
redor dos implantes. Focos de calcificação distrófica foram evidenciados no tecido
perimplantar do tubo com PGO. No estudo de reparo ósseo, as secções histológicas
revelaram que o trabeculado ósseo neoformado mostrou-se mais denso, e com
atividade osteorreabsortiva periosteal menos conspícua em OTL. Não foram
verificadas diferenças estatisticamente significativas na área de neorformação óssea
entre CTL (1,5 ± 0,4mm2) e OTL (1,9 ± 0,3cm2) (p = 0,0617). Os parâmetros bioquímicos
(Ca e ALKP) e hematológicos se encontravam dentro dos limites de normalidade,
exceto por moderada monocitose observada em CTL. Os resultados da análise
histológica mostraram-se biocompatível e quando comparado ao grupo controle não
foi verificado diferenças significativas. Na avaliação radiográfica foi observada a
presença de barreira mineralizada nos grupos: (CTR 76,65 e OTL 84,45), contudo,
houve diferença estatística significativa (p = 0,021). Os resultados mostram que os
otólitos apresentam boa compatibilidade em tecido subcutâneo e sugerem que podem
desempenhar um papel adjuvante na dinâmica da regeneração óssea.