Os professores primários em Sergipe: rupturas e permanências no ofício docente (1827-1838)
Abstract
Esta pesquisa se insere no campo da História da Educação e tem por objetivo
analisar a configuração da profissão docente no que diz respeito à atuação dos
professores primários na Província de Sergipe, no período de 1827 a 1838. Para
isso, fez-se necessário descrever o desempenho dos professores através das
correspondências enviadas para o poder público identificando as rupturas e
permanências das práticas docentes, bem como verificar, no folheto Fonte da
verdade ou caminho para a virtude, indícios que justifiquem seu uso e proibição nas
aulas de ensino primário no ano de 1835. As principais fontes dessa pesquisa são
correspondências emitidas pelos professores primários no ano de 1835 para o
Presidente da Província ou para o Secretário de Governo, os Relatórios dos
Presidentes da Província de Sergipe do período aqui proposto, o folheto Fonte da
verdade ou caminho para a virtude e a legislação educacional da época: a lei de 15
de outubro de 1827, que manda criar escolas de primeiras letras em todas as
cidades, vilas e lugares mais populosos do Império, e a resolução provincial nº 6 de
16 de fevereiro de 1838, que suprimia cadeiras de primeiras letras em lugares que
não fossem freguesias ou vilas. Para analisar as fontes mencionadas, as categorias
de análise configuração e circularidade foram utilizadas. O procedimento
investigativo tem o aporte teórico de Norbert Elias (1980, 1990, 2001) e Robert
Darnton (1988, 2005, 2010) e se ancora no método indiciário de Carlo Ginzburg
(1989, 2004), buscando, por meio de indícios e pistas, obter elementos que
permitam uma visão de como se deu o processo de configuração da profissão
docente entre as professoras e professores primários no espaço e tempo aqui
expostos. Conclui-se que a instrução primária na Província de Sergipe foi marcada
principalmente pelo repertório de leis imperiais e provinciais e pela supressão das
cadeiras de primeiras letras de algumas povoações, que a pluralidade dos
professores primários, seus espaços, suas expressões, perceptíveis nas
correspondências, contribuíram para a configuração do ofício docente, seja por meio
da aceitação das ordens impostas pelas autoridades de ensino, como no caso da
suspensão do folheto, seja pelo diálogo materializado nas correspondências.