O cotidiano escolar da EMMGR – serra da guia, Poço Redondo Sergipe (Comunidade Quilombola)
Abstract
A pesquisa basilar desta dissertação tem como objetivo geral identificar e analisar o
cotidiano de uma escola pública municipal de educação básica que desenvolve o ensino
fundamental (anos iniciais) com ênfase nas identidades étnico-raciais, diversidade
cultural e estética da solidariedade, identificando e ressignificando obstáculos e
impulsionadores, avanços e contradições. O universo da pesquisa foi o povoado Serra
da Guia do Município de Poço Redondo Sergipe, tendo como população abordada a
comunidade escolar da Escola Municipal Maria Gilda Rezende e as lideranças
comunitárias que representam a organização da sociedade civil local. A realização da
pesquisa de campo, inspirada na etnografia, ocorreu em dois momentos de convivência
ativa com a comunidade: no mês de janeiro de 2012, por cinco (5) dias ininterruptos de
observação e entrevistas com 10 membros da comunidade, sendo 4 mulheres e 6
homens, 10 alunos , dos quais 3 meninos e 7 meninas, e duas professoras da Escola
Maria Gilda Rezende, uma da classe multisseriada dos 1º e 2º anos e a outra dos 3º e 4º
anos. No mês de maio de 2012, durante o período de 07 a 13, foram realizadas
observações na instituição escolar, acompanhadas dos respectivos registros cursivos. O
diário de campo foi instrumento para registro das observações referentes a aspectos
sociais e culturais relevantes e arquétipos de fala, sobretudo notas descritivas das
primeiras inserções na comunidade quilombola, na perspectiva de identificação das
ambivalências, como categoria teórica desenvolvida por Bauman (2001), com seus
limites e possibilidades. A revisão da literatura pertinente, que contemplou autores
clássicos e contemporâneos, paralelamente à análise documental de fontes obtidas junto
aos órgãos públicos que lidam com questões e causas quilombolas, precederam a
pesquisa de campo. Os resultados permitem inferir deficiências da formação de
cidadãos quilombolas, considerado o contexto das relações étnico-raciais afirmativas e
da diversidade. Foi constatado o distanciamento da realidade estudada das políticas
públicas proclamadas no Brasil a partir de 2003, no sentido da superação de
desigualdades sociais, em especial étnico-raciais, no contexto da estrutura social
excludente e discriminatória que marginaliza as comunidades quilombolas, inclusive
com o contributo da escola. Nesse sentido, a pesquisa demonstra que as identidades
étnico-raciais não são respeitadas no processo educativo formal, porque a ilusão de
praticar o mito da democracia racial não se concretiza desde a formação dos
professores, para a compreensão e vivência das relações multirraciais, dos repertórios
culturais e do currículo multicultural, reproduzindo a escola preconceitos e reforçando a
dicotomia inferioridade/superioridade, em detrimento da interculturalidade, do diálogo e
da troca de experiências. Conclui-se com a afirmação de que o processo de luta pelo
reconhecimento das diferenças e pelo direito não se dá de maneira isolada, requerendo
políticas e ações multissetoriais que assegurem à escola, em especial ao corpo docente,
o desempenho de sua função social e pedagógica.