DO SUPÉRFLUO À NECESSIDADE BÁSICA: breve análise para reflexão sobre o histórico da sociedade de consumo e a liquidez dos vínculos sociais.
Date
2018-12-03Author
TOMAZ, Cícero José
MORAES JUNIOR, Cícero Oliveira de
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Autores como Baudrillard (1995), Bauman (2008) e Featherstone (1995), caracterizam a sociedade atual como uma Sociedade de Consumo. O termo expressa relações massificadas entre os indivíduos, mediadas pelo consumo e mercado, tidos como definidores de identidades na pós-modernidade. As diferentes abordagens em relação a este fenômeno tendem a assumir percepções que vinculam diversos sujeitos a um campo comum, através dos produtos e serviços consumidos. As relações relativas à sociedade de consumo devem ser analisadas a partir da história das relações sociais, da formação dos mercados, da produção e aquisição de bens e serviços. O ato de consumir terá características comuns resultantes de fatores relacionados com a cultura, com a percepção, ao sentido de pertencimento e com as necessidades humanas, sejam essas necessidades as mais básicas ou as mais sofisticadas ou supérfluas (BARBOSA, 2010). Para Bauman (2008), ainda que o ato de produção e consumo seja comum a todas as sociedades e formações humanas, a fluidez ou liquidez atual dos vínculos seria a marca da sociedade contemporânea. A referência a "liquidez" remete para o autor, ao constante movimento de desmonte da realidade herdada, constituída a partir de distinções claras, legíveis, de longa duração, que teriam caracterizado a sociedade moderna.
Cabe ressaltar, que em linhas gerais a característica distintiva da sociedade de consumo não é a quantidade de consumo em si, mas o fato de estar desvinculado de qualquer razão instrumental, como as regras morais de distinção entre os grupos, como acontecia entre nobreza e burguesia. Entre os elementos de destaque na análise sobre a Sociedade de Consumo, está a compreensão de que indivíduos através do consumo procuram soluções
¹ Psicólogo, Mestre em Consumo e Desenvolvimento Social, Professor da UNIT - PE.
² Acadêmico do Curso de Administração UNIT - PE
individuais para contradições sistêmicas, por exemplo, a desigualdade entre classes e a construção e manutenção de identidades mais integradas. Se nos séculos XVII e XVIII, com destaque para a sociedade francesa, as leis suntuárias impediam a burguesia de praticar o mesmo tipo de consumo praticado pela nobreza, uma das distinções relativas aos tempos atuais, diz respeito à formação de uma sociedade de produção em massa, onde a aquisição de bens não depende da classe social a qual o indivíduo pertence (BARBOSA, 2004). Neste sentido, o que se observa atualmente segundo os/as autores/as que refletem as sociedades a partir da centralidade do consumo, é a existência de regras que permitem ao indivíduo escolher o que ele quer comprar, desde que tenha recursos para isso. Entendendo-se como condições de comprar, também ter crédito na praça (BAUMAN, 2005), independente de sua posição social, cor, sexo ou idade. A expressão Sociedade de Consumo estaria mais voltada para a análise do comportamento dos indivíduos frente a desejos orientados pelo mercado, por campanhas publicitárias sucessivas, desta forma, a compreensão de Bauman (2008), é que ao contrário do que acontecia na "solidez" da modernidade, as relações humanas passam a substituir signos de pertencimento e distinção permanentes entre os grupos, pelos signos da posse de mercadorias, que passam para o autor, a serem localizadas no centro das práticas cotidianas.